sábado, 25 de agosto de 2007

VOZ DE PROFETA



Quando criança, após muitas broncas e surras, castigos e dores, houve um tempo de serenidade. A saída brusca, repentina da figura do pai, provocado pela morte que sempre assusta, fere e brota como esperança para quem crê na continuidade da vida, torna as pessoas um pouco mais fortes e conscientes. Toda regra tem exceções. Foi nesse período conturbado, de indecisões, com a alma em um estágio de formação e informação, que resolvi colar uma mochila às costas e conhecer o mundo. E o mundo é uma grande mansão que abriga as raças embora no meu entender só exista uma. A raça humana. Como adolescente roubado na esperança, ferido na alma, descontente, decepcionado, enfurecido pela ruptura inevitável da morte do pai, busquei algo que pudesse me acolher e transformar minha alma desencantada pela vida. Passei a ler muitos livros. A escrever alguns pensamentos. Entre o céu da minha condição jovem e o inferno do mundo que esmaga a liberdade, percebi que na natureza há uma dualidade quase compulsiva a ditar regras. As religiões me encheram de incertezas entre o bem e o mal. Conheci mentiras milenares. Pessoas que me ensinaram a amar. Situações que me fizeram odiar. Ódio e amor. Dualidade natural do processo existencial. A sociedade cantava e chorava em ciclos intermináveis. O tempo avançava e marcava minha carne, afunilando minha condição de dizer sim ou não. Diante dos meus olhos despontavam vários caminhos. A matéria e o espírito. Uma dualidade que envolve a integridade dos nossos pensamentos e a liberdade de se acreditar. Nos abismos da minha consciência jovial, um chamado se fazia ouvir e ficava difícil de compreendê-lo diante dos ruídos da vida atribulada nas estradas da vida. E as drogas se apresentaram como alternativa. Quando abraçamos a dependência química não conseguimos vislumbrar seus perigos. Mas, há perigo em tudo. O medo sempre existiu nas faces humanas. Os corações sempre imploraram amor. E amor é sentimento gratuito. Pelo menos deveria ser. Passei a caminhar tropegamente na face da terra. E comi o pó que meus próprios pés levantavam dos caminhos percorridos. Um dia profetizei meu futuro. Sentado sob uma pedra, em uma cachoeira distante, naquele santuário ecológico que não existe mais, falei que venceria os desafios e me entregaria ao amor incondicional. Não seria dependente dos conceitos e preceitos que me invalidariam a liberdade da alma e da expressão livre. Sem a mentira das drogas, com a verdade da alma, na liberdade do amor, abracei a luta pela vida de todos os seres. Hoje sou um livre pensador. Profetizei.