segunda-feira, 21 de julho de 2008

MINHA MÃE LINDA


UM PASSADO

UM PASSADO

Minhas experiências com as drogas chegavam ao limite da tolerância da alma. Pessoas queridas eram desfiguradas pelos efeitos do ácido lisérgico. A mente em fúria ansiava por uma reação que brotava no horizonte da vida. Os desafios eram torturantes. Corpo, alma e espírito, fundiam-se em um canto poético e desesperador em favor da vida. A marijuana, as anfetaminas, o lsd, o pervintim, estavam começando a perder terreno para a conscientização plena do estado real da existência. O privilégio de se ter uma inteligência, avançava sobre a dependência química. A guerra deveria ser intensa e eu não poderia ser clemente com meus inimigos. O álcool era mais um desafio. E desafios são para serem vencidos. Nós surgimos como minúsculos seres, espermatozóides em correria, para alcançar a luz no exterior do ventre materno. Eu me sentia um vencedor. Cheguei na frente de milhões. Não seriam as drogas e o álcool, que me faria prisioneiro pela vida toda. Exerciam um certo fascínio sobre minha adolescência promíscua. O mundo era muito pesado para minha frágil alma. A contra cultura avançava acenando para um futuro promissor. O movimento hippie lançava sua canção de paz e amor. Eram confusas as luzes que se acendiam diante dos meus olhos de pequeno homem. Entre as águas que definem a criança do adulto, lá estava eu, remando contra as marés. Nem criança e nem adulto. Um adolescente. Um estado vegetativo que faz brotar incertezas, medos, esperanças, desilusões, paixões, amor e pragmatismo. A sociedade sempre colocou responsabilidades para os adolescentes. No entanto, são raras as oportunidades que essa sociedade hipócrita oferece para eles. Eu me sentia disposto a suar sangue, a derramar lágrimas de dor, mas venceria aquele estágio de dependência química. Duas over doses anteciparam minhas expectativas. Eu precisaria renascer das cinzas como na lenda da fênix. E diante de uma cachoeira, águas rolando sobre pedras escuras, percebi que minha oportunidade chegava. Um desejo imenso de voltar para casa assumiu meu coração. Distante milhares de quilômetros, comecei meu êxodo pessoal a caminho de um calvário. As drogas não dizem o quanto será terrível a abstinência para quem ousar se livrar do vício. Suei sangue. Chorei rios de lágrimas. Senti meu corpo tremer em um arremedo do inferno de Dante. O passado está registrado em minha alma. As cenas estão claras e vivas. Hoje canto e conto minha liberdade para que ela seja a chave das algemas de quem se arrasta sobre seus vícios.