terça-feira, 11 de janeiro de 2011

DO HOMEM PARA O MAR....

ASSOCIAÇÃO AMANARI
ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL
DIREITOS HUMANOS - CULTURA – MEIO AMBIENTE – ECOLOGIA CIDADANIA
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DO HOMEM PARA O MAR

No mínimo, a última vez que visitei uma praia, já se aproxima de 20 anos. Visitei cidades praianas, mas não partilhei com o mar. Fui para rever amigos. Fazer apresentações. Palestras. O mar sentiu. Eu também. Afinal, sempre fomos ótimos parceiros. Dos tempos de hippie, circuncidado pelo agrilhoar das drogas, eu amava ficar horas observando-o, sem perguntas, nenhum questionamento, sentado sob um toco podre de árvore arrancada pela força da própria natureza. Depois, com o passar do tempo, nas minhas observações, via fezes humanas boiando, óleo de navios assassinos, lanchas e outras embarcações para a diversão humana. Paulo Coelho escreveu: “As margens do Rio Piedra, eu sentei e chorei”. Eu chorei ali, onde as ondas quebram, onde o marisco passeia, onde as estrelas se perdem, onde as tartarugas caminham para a vida. Resolvi não chorar mais diante do mar. Então me recusei a observá-lo novamente. Não gosto de visitar moribundos. É triste ver a vida falseada em prantos disfarçados, engolidos com a saliva, a título de tentar enganar a vida. Como meu próprio caudilho, determinei que, diante do mar, eu faria uma reverência longe de seus tentáculos. Não há como conciliar vida e sujeira. Crime contra a natureza e amor à vida. Respeito ao que é Sagrado com arbitrariedade e ignorância humana. Alguns amigos retornaram do feriado das festividades idiotas. Que louvam bebidas e glutões. Relataram absurdos. Nada fora dos padrões normais, ou seja, lixo, fezes, depredação de rochas, peixes mortos por alguma atividade humana, mais áreas desmatadas nos santuários da Serra do Mar, etc. Desculpem eu usar o “etc”, não é falta de vocabulário, procuro não sintetizar em milhares de adjetivos os crimes dos seres humanos diante da Sagrada Mãe Natureza. O homem tornou-se um filósofo da clopemania. Rouba os valores que deveriam durar eternamente para sua satisfação temporária. Não quero mais ir a praia para uma parceria amigável com o mar. Ele sofre. Agoniza. Meus rios também. As matas, coitadas, desgraçadamente condenadas pelos crimes ambientais e descasos políticos, morrem queimadas ou derrubadas pelas correntes poderosas dos tratores de proprietários de portos de areia. Esses empresários sorriem gostosamente em suas mansões. Sorriem pelo conforto material. Zombam de todos nós que nos preocupamos com a vida e ainda nos consideram “eco chatos”. A praia perdeu a cor. O mar, as águas prateadas, azuladas ou esverdeadas. Suas águas estão escuras, submetidas aos ataques predadores e malditos dos seres humanos. Não vou mais à praia. E sinto quando uma criança pega virose e passa horas no pronto socorro por ter ingerido inconscientemente um pouco da água salgada. Turva. Não me preocupam os adultos. Esses poderiam morrer intoxicados como os próprios peixes e moluscos. Deveriam ser extintos como os plânctons. Esmagados como as ostras. Pisoteados como as estrelas e caranguejos. Meu amado mar, não me queira mal, amei seu mangue, suas águas, suas pedras, seus habitantes, como um bem precioso que recebi graciosamente da Sagrada Mãe Natureza. Amei e continuo amar, ainda que em parceria com sua agonia, seu êxtase confuso na exaltação da vida e na consciência da morte. Um abraço de quem não se orgulha mais em ser um homem. Voltarei ameba, cheia de esperança em reproduzir vidas novas, limpas, sadias, livres e perfeitas. Adeus.



CARLOS ROBERTO VENTURA
Presidente Fundador