domingo, 29 de julho de 2007

ALMA LIVRE



Se o mundo se arrasta nas suas estradas, carregando uma mochila pesada, repleta de besteiras, sangue, suor e lágrimas, isso se deve aos que deixaram de acreditar no processo natural da existência, onde a biologia divina é mãe e senhora, passando a creditar para os homens os méritos sobre a origem da vida e do universo. A sociedade criou os deuses e demarcou territórios para a chegada das doutrinas politeístas ou monoteístas. Na criação não há doutrinas. Doutrinados são os soldados que marcham para a morte sob o comando da ignorância governamental. Um homem doutrinado é um animal encurralado. A liberdade é a religião dos sábios. Quando, na mesquinhez dos homens, na sua tentativa de tornar-se o centro do universo, usurpamos as diretrizes divinas, a condução cósmica dos nossos passos, o que obtemos é o que vivemos nas nossas cidades. O caos. O que livra o planeta de se tornar um cibório único e absoluto, escravo dos interesses papais e religiosos, são todos os seres livres e sábios. Há uma revolta quando os olhos viciosos dos doutrinadores e doutrinados, dessa corja infecta que movimenta milhões de dólares no aprisionamento de almas ignóbeis, pousam sobre a face dos homens livres. E a fisionomia da liberdade não necessita de retoques, maquiagens artificiais que a sociedade impõe aos seus filhos. A caminhada do mundo não deve ser feita como se todos nós fossemos répteis. Não devemos esfregar nosso ventre, nem o abdome na poeira do chão. Os nossos olhos devem estar apontando para o horizonte, de onde nasceram nossas esperanças, sonhos e ideais. A hipocrisia dos mercadores de almas roubou a liberdade que muitos traziam na alma consciente. Hoje o que há são disputas acirradas em nome de um ilusório poder religioso no planeta. Religiões, seitas, filosofias, princípios doutrinadores, orquestraram canções ruidosas e assustaram o divino que convivia com os homens no dia a dia. A saída do divino do nosso meio feriu o natural, promoveu buscas intimas e a bandeira do salve-se quem puder foi hasteada no topo do mundo. Eu fiz opção pela preservação da minha liberdade, não me importando como a sociedade possa me julgar, pois o direito ao julgamento faz parte dos conceitos materialistas. Sou feliz. Não posso saborear a plena felicidade enquanto perceber que homens continuam a escravizar homens, em nome do que consideram divino, de um criador, de seres imaginários sentados em nuvens, de anjos ociosos e tocadores de harpas e trombetas. Quero declarar em nome do amor incondicional, diante das crenças materialistas e dogmáticas, meu respeito e minha admiração pela Sagrada Mãe Natureza, livre e absoluta. Sou filho dela e pretendo despertar muitas almas para essa realidade divina. A ilusão que a sociedade prega é mera forma de fazer com que os ladinos tripudiem em cima dos ignorantes. Independência ou morte. Liberdade já.

SOU XAMÃ



Minha alma não se exaspera diante do fato real de que todos nós somos limitados no tempo e no espaço. O infinito não é concebível em nossa imaginação. Não cabe nos nossos contextos. Foge dos parâmetros do conhecimento metódico e mecânico recebido nas escolas. Eu não finjo viver. Eu vivo. Eu respiro, como, bebo, trabalho, penso e com isso posso afirmar que existo. E existir não é apenas fazer o que faço. Levo e trago para o interior do meu ser essa mesma infinitude inconcebível que se aflora nas esquinas da minha mente. Há sempre uma arapuca montada e pronta para me abocanhar. A mente invalida a alma. Mas a alma não morre apesar da mente. O tiro apaga o exalar que fomenta o corpo. Além do corpo, a bala nada consegue. Há palavras que são balas. Há pensamentos que são corpos. Há atitudes que são almas. Um passo dado na direção do impossível merece aplausos. Queremos possibilidades e não desafios. É cômodo romper com os princípios naturais. Explicar o inexplicável é carimbar a existência com tintas artificiais. Vem a primeira chuva e essa tinta escorre por entre nossas pernas. A ilusão que o mundo prega é tinta artificial. Sou o que minha alma é. Eu sou alma. Nada sou que faça brilhar o acaso. O vento arrasa os telhados e derruba árvores. As tempestades são conseqüências do temperamento humano. O planeta segue seu curso afogado pelas lágrimas dos que sofrem. Quem sofre faz o planeta sofrer. O cordão umbilical da vida é extenso para que possamos encontrar seu início. Nem sabemos qual a placenta que nos gerou. Humanidade é fruto e não árvore. Minha tez é símbolo do amor. Amor é fonte de vida. Não nasci pelo coito dos meus pais. Eu e estou presente no ar, na água, na terra e no fogo. Sou xamã e não tropeço nas calçadas das ruas e avenidas. Estou muito distante das concepções prolixas dos doutores. Se me fecham a porta eu passo através da fechadura. Sou terra roxa e pura. Estou na semente e na mente que persegue os fatos. Sou a calmaria e o afago que o vento faz nos cabelos das sereias em uma tarde qualquer. Estou no suor do negro que não consegue um lugar ao sol. Choro pelo preconceito e morro pela discriminação. Estou no morro pendurado em barracos. Há loucos que passeiam pelos bosques enquanto sábios são enclausurados nos manicômios. Os governos são tolos. Cegos e surdos. Eu sou xamã. Quem me concebeu foi a anfitriã das raízes. A Sagrada Mãe Natureza. Sou parte dessa realeza que na terra brotou. Estou em todo lugar. Se calar sua voz vai me ver passar. Se deixar de ferir vai me sentir. Se sorrir não irá me ver partir. Se me der calor vai receber meu amor. Sou xamã. Confuso para os obtusos. Sou canção tocada pelo coração. Eu pulso e vibro para que a vida continue a governar. Levante uma pedra e lá estarei. Afague uma folha e te responderei. Sou flor que aceita o toque da abelha na retirada do pólen. Sou xamã. Sou homem.

sábado, 28 de julho de 2007

O QUE PENSAM OS ANIMAIS


O que pensam os filhotes da capivara morta, que é retirada da água cheia de chumbo, que a arma do caçador idiota atropelou e que na inocência comparada a de nossos filhos, continuam a sugar as tetas sanguinolentas da mãe? O que pensa a senhora passarinha diante dos ruídos das motos serras e das derrubadas das árvores com seus filhotes ainda no ninho? O que pensa o cachorro de rua que antes de adoecer era bem tratado pelo seu dono? O que pensa o boi quando entra no corredor da morte e moribundo ainda vê o homem rindo pela sua queda no matadouro? O que pensam as borboletas que enfeitam nossas matas se as matas estão dando lugar as pastagens que alimentam a ignorância humana? O que pensam os rios e os oceanos diante das toneladas de esgotos e lixos despejados pelos seres humanos? O que pensa a Mãe Terra observando seu próprio final lançado à deriva, pelos seus filhos que se tornaram bastardos? O que pensam os seres divinos que antigamente caminhavam pelas florestas e conviviam pacificamente com os donos das terras, os índios, que estão em extinção como muitas espécies? O que pensam os seres minúsculos que vivem sob a proteção da invisibilidade, mas que não estão livres de serem exterminados pelo nosso ódio à vida. O que pensa a Sagrada Mãe Natureza diante dos avanços da tecnologia que só fabrica ilusões e acaba com a realidade divina das coisas. Não há mais paz na Terra. Não há mais parâmetros de respeito. O homem engole o homem. A ansiedade estabelece erros e medos. A liberdade é um processo em decadência. A vida tornou-se um jogo de interesses e a morte sorri na poltrona da espera. O tempo consolidará minhas previsões. Desde quando anularam os desígnios divinos, ainda que nada tenham de relação com os conceitos religiosos, pois a divindade é absolutamente livre e coesa com a própria vida e não está atrelada ao que o homem acredita, a violência pariu mais que a natureza. O que pensar a respeito de tudo o que fazemos se nossos pensamentos só costuram peças defeituosas e artificiais? As síndromes tomam conta das bulas médicas. A máfia do medicamento enriquece a cada segundo vendendo pílulas de açúcar aos psicóticos e esquizofrênicos. Não há equilíbrio na condução de nossa sociedade. Líderes são gigantes na corrupção. As religiões sobrevivem do suor dos fiéis. A venda de terrenos no céu continua. O pavor do inferno define em que acreditar. Sinto vergonha de pertencer a raça humana. Não pude escolher a minha forma de ser quando aqui cheguei. Me envergonho de pertencer aos maiores predadores da minha querida Pachamama (Mãe Terra). O que pensar? Ou você é daqueles que acha que os animais não pensam?