terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ESCALADA INGRATA
Quando iniciamos nossa escalada, como alpinistas incautos dessa montanha chamada progresso, encantados em alcançar o seu cume, iludidos pelos brilhos enganosos que víamos na sua superfície, não imaginávamos que teríamos que iniciar uma descida imediata para que escapássemos com vida. Essa aventura foi desde o início uma irresponsabilidade. Lá do alto percebemos que nada tinha para ser conquistado. O que imaginávamos ser importante para nosso conforto, além de ser fictício, mantinha em seu mistério, um preço muito alto, que nenhuma fortuna terrena poderia pagar. Essa descida precisa ser feita com muito cuidado. Sem atropelos. Conscientemente devemos ignorar os alpinistas relutantes em descer. Os que preferem morrer não podem arrastar outros para o mesmo destino. Os líderes dessa descida, devem ser o bom senso, o reconhecimento de que erramos demasiadamente na subida, a inteligência e o respeito pela vida de todos. Quem desejar cravar a bandeira da ignorância no cimo dessa aventura suicida, que gerou conflitos sérios entre o homem e a natureza, que o faça sem a minha participação. Sou alpinista de mochilas arreadas. Pés descalços. Retorno para o seio sagrado da existência na tentativa de recuperar o que ajudei a destruir. Minha descida significa a maior subida que já realizei fora dos parâmetros do dialeto mecânico da ambição a tudo custo.
Minha nova meta é a vida em função de todos os seres. Da água e das florestas. Dos insetos. Da permanência do divino a nossa volta. Na manutenção do céu azul. No canto dos pássaros. Ser alpinista dessa equipe suicida que sobreviveu diante da morte dos valores sociais, de líderes que defenderam a vida e morreram por ela, não inspira mais crédito e nem devoção. Repudio o momento em que iniciei essa escalada, ainda que cego pela manifestação que tomou conta do mundo. Milhões subiram e milhões morreram em função dessa escalada doentia. Milhões continuarão a morrer. Milhões serão poupados se entenderem que é chegada a hora de pisar firme no solo da compreensão e do amor a todas as coisas.
O mundo teceu sua malha pegajosa e ergueu templos para o deus consumismo lançando-se contra a vida nessa reação fundamentalista, radical, em nome do progresso. O que somos hoje? Senhores ou escravos? Saudáveis ou almas empedernidas pelas doenças que se espalham como tentáculos destrutivos? Não respondam. Reflitam e iniciem a descida em direção a vida.

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