sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SOU E ESTOU

(adaptação)

A Sagrada Mãe Natureza, ameaçou a humanidade com um tremor de terra que engoliria as águas da região. Outras águas viriam, tão funestas, que, num segundo, ficariam loucos todos os homens que bebessem delas. Apenas um homem acreditou na Mãe Natureza e, enchendo de água enormes jarros, foi para a montanha e lá, numa caverna, acumulou água que lhe bastasse até morrer. Pois tudo aconteceu. O terremoto veio e as águas boas foram, por ele, todas deglutidas e novas águas más, então, encheram as fontes, os riachos, as lagoas, os rios, etc. Alguns meses depois, o homem desce para ver o que havia acontecido. De fato, todo mundo estava louco. Avançaram sobre ele o o atacaram dizendo que o louco era só ele.

Voltou, pois o homem, à sua gruta, feliz pela água boa que trouxera e armazenara. Mas o tempo passou e a solidão tornou-se, pouco a pouco, insuportável. Necessitado, então, de companhia, desceu, mais uma vez, sua montanha e foi, mais uma vez, repudiado pelo povo, por ser tão diferente. Aí, ele tomou a decisão: atirou fora a água que ajuntara, bebeu as águas más dos seus irmãos e ficou louco como todos eles.

Quando descobrimos o que entendemos ser a Verdade, caminhamos só. É um caminho estreito demais para comportar alguém ao lado. Quem pode suportar tal solidão?

As pessoas não se arriscam e não estão interessadas em viver o que acreditam. Abraçam o que se arrasta pelos milênios, acomodadas em um silêncio comprometedor, digno de quem não deseja pensar com a liberdade que todos os seres possuem desde o nascimento. As tradições, lançadas como plataformas ao continuísmo, ocupam os espaços e agregam pela pedagogia do medo.

Penso e portanto não preciso aceitar o que me dizem ser a verdade. Sinto e não há necessidade de fazer com que outros sintam por mim. Na solidão, que não é doentia, mas, introspectiva, absorvo o néctar da confraternização espiritual que emana da terra, da água, do fogo e do ar. Estou inserido no contexto natural de uma manifestação cósmica sem dependência. Eu sou.

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