terça-feira, 22 de setembro de 2009

MÃE NATUREZA

No começo a criação e o incriado faziam parte da composição que fiz para todos os meus filhos. Seus olhos podiam fitar o infinito e além dele havia um grande percentual de minhas obras. Coloquei no infinito azul, minha capa protetora para sua pele, sabendo que a luz do Astro Rei, poderia feri-la. Nos rios e oceanos, a vida era farta e bela, um berço de alimento para todos os homens. As florestas, com seus habitantes, rendiam-me suas honras e me chamavam de Mãe. Nereidas, gnomos, elfos, ondinas e centenas de seres, representantes vivos, dos mistérios que ainda carrego em meu intimo, desfilavam seus corpos repletos de luzes, como caravanas de encanto e vida. Os humanos faziam parte dessa roda viva que dobrava seus joelhos aos meus anseios e apelos. Havia amor sustentando a relação homem e natureza. O respeito produzia filhos e a continuidade mantinha-se em harmonia plena entre toda a criação. A ganância, a mentira, a esperteza, a cobiça, a ambição, passou a alimentar a alma dos homens e ignoraram a capa de proteção que lhes dei. Inventaram seus deuses pagãos e os cobriram com seus mantos inexpressivos, coroando-os com seus objetos ornamentais frágeis e ignóbeis. Os raios, o trovão, o fogo, a água, a terra, o ar, o vento, as tempestades, os vulcões, manifestações da minha força controladora, passaram a significar efeitos catastróficos e da boca dos seres humanos saíram impropérios dirigidos a tudo que criei. As primeiras tribos de homens foram dizimadas e pisoteadas em seus santuários, pontos de luzes, sagrados pela unção natural que os invasores substituíram pela ilusão da água benta. Só eu represento a benção. Sou mãe, meu ventre pariu todas as coisas entre o céu e a terra, na razão maior do infinito. O homem, minha obra prima, rebelou-se contra mim. Ignorou-me. E nos dias atuais, dobra os joelhos em frente aos seus altares vazios, ocos, sem vida, cravejados pela ostentação, ignomínia, avareza, chamando a quem não seja de direito, de deus. E os deuses passaram a fazer parte da cultura dos povos. Começaram a brigar entre si. E no jogo dos interesses, a minha divindade foi substituída pela imposição religiosa e dogmática. Recordais os dias de ontem. Sinta os dias de hoje. Não poderás viver os dias do amanhã. Não conseguirão me matar, pois eu vivo das minhas entranhas, mas ao homem não foi dada essa graça, todos precisam de mim. Eu estarei aqui, refazendo-me da sujeira que me lançaram na alma. Nada posso fazer para salvar meus próprios filhos. E meu choro, uma chuva, ácida, transformada pela ambição humana, será a causa e o efeito desse período de dor e mutação genética. Quem viver verá!!!

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